sábado, 25 de maio de 2013

Desafio dos 200 filmes - Parte 1

01) Um filme que lembre a sua infância: Esqueceram de Mim (Home Alone, 1990)
Era apaixonadinha pelo Macaulay Culkin e me divertia muito quando assistia.


02) Um filme que marcou a sua adolescência: A Múmia (The Mummy, 1999)
Foi marcante ter visto este filme no cinema com um monte de moleque que estudava comigo - eu era a única garota, claro.


03) Um filme que passe na Sessão da Tarde e que você adora: Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller's Day Off, 1986)
Não deve passar mais, mas era um dos meus favoritos.


04) Um filme que você considera um clássico: Casablanca (Casablanca, 1942)
Perfeito.


05) O melhor filme de seu diretor favorito: Arizona Nunca Mais (Raising Arizona, 1987) - Ethan & Joel Coen
Difícil escolher o melhor, mas este é o meu favorito dos irmãos Coen (a nostalgia influencia na escolha).


quinta-feira, 23 de maio de 2013

Sorriso noturno

Após curtas trocas de mensagem, sorriu. Não conseguiu disfarçar o que sentiu ao ler aquilo. E foi surpreendida de novo. Sorriu mais uma vez. Quando olhou para o relógio e viu que já era hora de se deitar - como uma preguiçosa nata, sabia que minutos a mais pesariam no longo dia que se seguiria -, despediu-se. 
-Vou dormir sorrindo. - admitiu.

No mesmo momento, lembrou-se da última vez que fez isso, quando deitou-se na cama e não conseguia dormir de tanto êxtase, com o enorme sorriso emoldurado pelos lábios e as lembranças faiscantes brilhando dentro da mente. "Você é o meu show do Black Keys no Lollapalooza". Pensou, mas não disse. Talvez fosse algo bobo para comentar com alguém. Talvez fosse entendido meramente como uma piada - ou pior, poderia simplesmente passar em branco. 
Ficou com isso na cabeça, enquanto momentos distintos se entrecruzavam num acontecimento imaginário, como duas linhas do tempo que o acaso resolvesse juntar. Dois dias completamente diferentes. Duas situações marcantes. Um mesmo sentimento: um misto de alegria e sensações adolescentes.
Ainda sorrindo, bebeu o último gole de vinho e sussurrou um refrão, como uma cantiga de ninar para embalar o sono que se aproximava cada vez mais. Sorriu novamente e tentou desligar-se do mundo real para adentrar as cobertas e se permitir imaginar histórias que a embalassem suavemente.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O último/ a última...

... filme visto: Amor Profundo
... episódio de série visto: Frat Party (S01E23), de The Mindy Project
... álbum escutado: Modern Vampires of the City, do Vampire Weekend
... música escutada: Young Lion, do Vampire Weekend
... violação à tentativa de ser vegetariana: temaki duas vezes na mesma semana
... aventura culinária na cozinha: macarrão com champignon, noz-moscada e alecrim no azeite
... compra mais do que necessária: um notebook
... comprinha de mulher: pijama e camisola para o inverno
... mega-mudança de rotina: a pós finalmente começou
... ataque de ansiedade: ontem

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Vítima

Encolheu o corpo em torno de si e tentou se esconder de tudo e de todos. Passou dias ali, enquanto pensamentos e reflexões remoíam lembranças de um passado não tão recente. Isolado no silêncio da madrugada, sentiu uma mão tocar delicadamente seu ombro. Era pequena e o confortava. Segurou-a com a sua, levantando a cabeça para enxergar o rosto. Era ela. E só poderia ser um delírio, provavelmente provocado pela greve de fome a qual se dedicava há dias. Levemente desfocado, o rosto sorriu, recostando-se no seu em um gesto de ternura. Enquanto uma das mãos permanecia na sua, a outra acariciava-lhe os cabelos. O silêncio foi interrompido por soluços desesperados, seguidos pelo choro incontrolável. A imagem se dissipou, engolida pela escuridão. Inconformado, buscou uma forma de fazê-la voltar, mesmo sabendo que a ilusão imagética jamais curaria cicatrizes cujos pontos se desfaziam e permitiam jorrar os resquícios de vida que ainda restavam dentro dele.
Com as mãos na cabeça, apertou os olhos com força para visualizá-la novamente. Redesenhou os cabelos escuros e os olhos amendoados. Deu vida aos lábios, colorindo-os suavemente. Vestiu o corpo com roupas longas e leves, semitransparentes. Era uma figura fantasmagórica, a qual tentava permitir que deslizasse da imaginação para a sua realidade. Queria senti-la e tocá-la, como tantas vezes fantasiou, e ouvir sua voz sussurrando que jamais o abandonaria. Enquanto o delírio permitia que ela tomasse forma, a memória o traiu e entregou a peça-chave de seu devaneio: a única maneira de um dia tê-la seria anular as decisões que tomou e a afastaram de si. 
Repentinamente, o corpo curvado sobre o chão endireitou-se. Levantou-se no escuro e tateou até acender a lâmpada. Confuso, abriu o guarda-roupa e retirou uma velha agenda. Procurou pela data e encontrou o relato alegre de que sua vida mudaria em poucas semanas. A partir dali, várias anotações expressavam expectativas e planos. Salpicavam as folhas um número ou outro de telefone, alguns identificados, outros sem a menor pista sobre a quem pertenciam. Endereços e e-mails se misturavam e, nas últimas páginas, predominavam espaços em branco. 
Trocou-a pelos planos de um futuro brilhante, que enfim se revelou frustrado. Se pudesse tirar um aprendizado de tudo o que passou seria "ter menos arrogância da próxima vez". De posição de vítima do mundo, assumiu a de vítima da própria afobação. Afundou-se com o desejo de ter tudo ao mesmo tempo e ao mesmo instante. De tudo, nada tirou. Sobravam-lhe apenas o arrependimento doentio e a incerteza de como seria sua vida dali para frente.

sábado, 18 de maio de 2013

Anuviada

O dia nublado refletia seu estado de espírito: acinzentado, com pontos de luz esparsos. Na grande avenida, o vento outonal revirava seus cabelos rebeldes, insistindo também em dar movimento à saia do vestido. Os passos, outrora apressados, eram mais vagarosos do que o costume. O semblante cansado tentava disfarçar um suspiro ou outro que escapava contra a sua vontade.
Parou para atravessar a rua e notou um mendigo revirar o lixo matinal. A banalização da cena era intensificada pelo manto da invisibilidade que o homem parecia arrastar consigo. Ao alcançar o outro lado, virou a esquina, cantarolando mentalmente os versos de uma canção. "Alone, why you waiting so long? After every single word is said I'm feeling dead and gone."
Seguindo seu rumo, repentinamente imaginou um desfecho inesperado. E se, ao invés de embarcar no ônibus que a levava diariamente ao mesmo destino, simplesmente mudasse o roteiro? Poderia passar algumas horas no museu, respirando a arte que tantas vezes a motivou a refletir sobre as coisas belas que o ser humano é capaz de criar. Ou então, pegaria um ônibus no sentido contrário e reescreveria seu dia.
Ao atravessar a ponte, se deu conta de que nenhuma das alternativas de fato ocorreria. Lançou um olhar para os carros que passavam sob a estrutura metálica e desceu pelas escadas, batendo com força os pés calçados com as velhas botas. E o dia continuou, sem muitas surpresas, enquanto prevalecia a velha constatação de que uma dose de melancolia lhe caía melhor do que um sol radiante desbotando o límpido céu azul.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

A leitora e a blogueira

Um dia você está cansada - e um tanto triste também - e acessa o Twitter pelo celular, enquanto espera uma aula começar. Na aba de interações, uma colega virtual de anos, leitora do seu blog, marca seu nome em um tweet. E você não consegue evitar ao ler o elogio: sorri, mas ao mesmo tempo, sente uma emoção que quase se verte em lágrima. 


Foi assim, tão simples, tão bonito, tão inspirador. Algo que vale a pena registrar aqui e compartilhar com outros leitores, que vez ou outra também disponibilizam alguns minutos do seu tempo para uma leitura despretensiosa.

Consulta

Sentou-se na maca alta e tirou a blusa. O ar-condicionado da sala a tornava ainda mais fria, com a ausência de cores e de porta-retratos estampando fotos de crianças. O jovem médico de olhos fundos terminava as anotações da breve entrevista e preparava o estetoscópio. Não reparou nos seios nem no sutiã. Se lhe perguntassem a cor da peça íntima, provavelmente responderia "branca", mas seria mais um chute acertado do que uma prova de que o havia notado.
Ela se contraiu levemente quando o estetoscópio tocou-lhe o peito. Era tão gelado quanto o ar da sala, conforme apontavam os pelos eriçados do braço e a expressão de desconforto. Pela primeira vez desde que a paciente havia entrado no consultório, o médico a olhou nos olhos - e desceu o olhar. Surpreendentemente, não focou no estetoscópio, mas nos seios. Ruborizou, enquanto se repreendia mentalmente, como se a moça distraída tivesse percebido o olhar indiscreto.

- Inspira. Respira. Devagar. Assim.
E ela repetia as ações, enquanto o estetoscópio, já aquecido pelo calor de seu corpo, passeava pelo tórax e seguia em direção às costas. Mais do que os seios, as costas o fascinaram. Eram pequenas e magras, com manchinhas pontuais que formavam uma figura abstrata. 
- Perfeito. - sussurrou.
- Então está tudo bem? - perguntou a paciente, com a voz ansiosa.
- Hã? Ah, sim. Está tudo bem. Só vou pedir alguns outros exames e você pode trazer os resultados quando tiver.

Vestiu a blusa, aliviada por poder disfarçar o frio e, principalmente, por sair da desconfortável posição de estar exposta. Em seguida, o médico entregou as folhas de papel com os pedidos de exames, explicando o que era cada um. Ela tentava relacionar o rabiscos angulosos às explicações, tentando disfarçar o ar confuso.
- Daí você marca e retorna quando estiverem prontos. Certo?
A voz suave a despertou, mas não de uma maneira sedutora, e sim de admiração pela atenção que lhe era dada.
- OK. Eu marco o retorno.
Despediram-se com um cordial aperto de mãos e, enquanto ela saía da dala, ele marcou um asterisco visível no prontuário e surpreendeu-se pensando no sutiã azul pastel.

sábado, 11 de maio de 2013

Aprendiz de headbanger

Antes de ser questionada, eu não me converti ao heavy metal. Continuo fascinada por "folk fofinho" e indie rock espertinho. Mas, esta semana um dos reflexos do Lollapalooza me pegou de jeito. Juntou a tensão do dia a dia com a malfadada tentativa de headbanging que me acometeu no show do Queens of the Stone Age. Sim, porque na impossibilidade de pular e dançar (estava espremida na grade de trás) e cantar (não sabia nem um refrão sequer), testei meus dotes de headbanger. E, naturalmente, me dei mal.
No início, achei que fosse uma dor muscular de má postura ao dormir. Ou, ainda, estresse em excesso. Mas eis que um movimento semelhante ao balançar de cabeça revelou que a repetição brusca da ação ainda tinha reação mais de um mês depois. E lá estava eu, de mau-humor porque a dor subiu até a cabeça.
A busca para fazer a dorzinha insuportável parar me levou à farmácia. Se em três dias não passasse, procuraria um médico - e diria que não sou tão roqueira quanto imaginava que fosse. Surpreendentemente, o gel resolveu. Renasci das cinzas de um torcicolo piorado pelo peso da mochila - conforme constatei depois. 
Com isso, aprendi que não sou mais aquela mocinha apelidada de Duracell, que dançava na balada inteira até a hora de ir embora. Que caminhava sem rumo com a pesada mochila e o mapa em mãos, em busca de um destino qualquer - desde que não se perdesse. Que aguentava um dia inteiro numa mostra de filmes do Woody Allen. 
A velhice pesou nas costas, nos ombros e no pescoço. Talvez, só a mente continue acomodada nas velhas (ou jovens?) ideias de outrora, tentando extrair um elixir da juventude de prazeres quaisquer. 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Rendição

- Eu te odeio.
A discussão se estendia por quinze minutos, com ataques mútuos, mas sempre a voz dela se sobressaindo, em tom alto, porém sem ser agudo. Ele retrucava, mas a tranquilidade de sua voz e o tom quase professoral da pronúncia das palavras a irritavam ainda mais.
- Você não me odeia. Sei que não me odeia. Não há motivos para me odiar. Nossas discussões sempre começam por alguma crise de ciúmes sem justificativa e...
- Ah, que droga! Você quer ser sempre o dono da razão! Não dá mais, chegou a um ponto que não te suporto! Chego a te odiar com esse jeito pedante!
Ele abaixou a cabeça e sorriu discretamente. Sabia muito bem o que fazer. "É hora de domar a fera...", pensou consigo mesmo, sabendo que o ciúme sem propósito - e a discussão que se seguia - chegaria ao fim em alguns instantes.
- ... e aquela sua amiga exibida, que vive rindo de tudo que você fala, para me provocar... - e parou de falar abruptamente.
Os olhos arregalados foram se fechando lentamente, enquanto um suspiro audível escapava-lhe dos lábios. A pequena e leve mordida no lóbulo da orelha a fazia derreter. O beijo no pescoço causava-lhe arrepios. A raiva foi se dissipando e ela se rendia à armadilha, sabendo se tratar de um velho truque do qual jamais conseguia escapar. 
- Você quer continuar brigando por uma coisa estúpida? - perguntou ele, com a voz serena enquanto tocava delicadamente seu ombro.
Qual parte do "eu te odeio" não conseguiu entender? - sussurrou, enquanto deixava que ele a levasse mais uma vez.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Não consigo explicar



Toda vez que acontece, não consigo explicar. Fico estranha. Às vezes apática, às vezes amável. Falo as coisas certas, mas as erradas saem quase simultaneamente. Sinto-me louca, mas racional. Irritada, mas serena. Romântica, mas realista. Triste, mas alegre. São dualidades de sentimentos que me confundem e definem, ao mesmo tempo.
Palavras são difíceis de serem capturadas, enquanto corro à sua procura com meu apanhador nas mãos, coletando uma e deixando outra escapar. No entanto, quando uso palavras de outros, preenchidas por letra e música, tudo parece fazer mais sentido. Uma velha canção, que ecoa na memória e me instiga a relembrá-la mais uma vez. "I can't explain", já disseram. "Eu não consigo explicar", repito. 
Assim, tento fazer com que tudo tenha sentido e não se perca em um vulcão em atividade sob uma tempestade de neve. Às vezes quente, às vezes frio. Sempre inexplicável.