terça-feira, 12 de agosto de 2014

Assalto

Nesta semana, sofri meu primeiro assalto em terras paulistanas - e espero que seja o último. A perda material magoa (um celular que havia ganhado), mas o pior é o sentimento de impotência diante do ocorrido. Um homem, provavelmente morador de rua, percebeu minha distração ao manusear o celular e me agarrou por trás, segurando meu braço e me intimidando. Não estava armado - foi a primeira coisa que notei -, por isso ofereci resistência até o fim. Caí no chão, ralei coxa, joelho e cotovelo, gritei por socorro. Não larguei o celular. Até que vi um outro homem se aproximar e pedi ajuda, mas era um comparsa do assaltante. Assim que percebi, larguei o celular. Não apanharia de dois.
Corri, gritei "ladrão", segui-os com os olhos. Se tivesse ajuda, continuaria correndo até a rua onde os vi adentrar. Mas, sozinha nada faço. Estava próxima a um posto policial, então aproveitei a corrida para pedir ajuda. Não tive. Carona para fazer BO na delegacia. Não tive. Junto comigo, duas testemunhas que viram os ladrões correr me deram apoio. Da polícia, consegui carona até a minha casa - no carro particular de um dos policiais.
Se fosse um crime mais grave, sofreria em silêncio, em plena luz do dia, em uma tarde de domingo. Uma imagem não sai da minha cabeça: e se outro tipo de crime fosse cometido? Eu sofreria com os gritos ignorados e abafados, seria questionada pela minha "atitude" e vestimenta. Talvez, ouviria que "poderia ter evitado".
Enquanto um delito relativamente pequeno me instiga a imaginar outras situações, sei que há centenas de mulheres sofrendo com a ignorância alheia, sem ajuda e com conselhos tardios de que "não teria acontecido se...". Impressionante como um pensamento leva a outro - e como um acontecimento ruim reflete outra lembrança que me esforço para esquecer.

2 comentários:

Patty a.k.a. Delores Vickery disse...

Este sentimento de constatação da vulnerabilidade que nós, mulheres, infelizmente temos, também me assombra até hoje. Fique bem, Lucie.

Anômima disse...

O trauma do assalto não passou totalmente, mas as cicatrizes do tombo já estão melhorando.